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Qual formiga juntei riquezas muitas,
Não de ouro falso mas de pensamento
Para nutrir no Inverno os meus anseios
De conseguir do mundo o entendimento.
Mas eis chegando o Inverno e atarantado
Ante a montanha a indecisão me amarra
Nem sei como comece, e agora penso
Melhor fora ter sido uma cigarra.
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José Reis
Nasceu em 12 de Junho de 1907, Rio de Janeiro, Brasil.
Faleceu em 16 de Maio de 2002, São Paulo, Brasil.
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Canto 1, 106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade adormecida!
Onde foi acolher-se o fraco humano,
Onde terá secura a curta vida
que não se arme e se indigne
O céu sereno contra um bicho
Da terra tão pequeno.
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Luis de Camões
Portugal
Livro: Os Lusíadas
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José
E agora José
A festa acabou
A luz apagou
O povo sumiu
A noite esfriou
E agora José?
E agora você?
Você que é sem nome
que zomba dos outros
Você que faz versos
Que ama protestar?
E agora José?
Está sem mulher
Está sem discurso
Está sem carinho
Já não pode beber
Já não pode fumar
Cuspir já não pode
E a noite esfriou
O dia não veio
O riso não veio
Não veio a utopia
E tudo acabou
E tudo fugiu
E tudo mofou
E agora José?
E agora José?
A sua doce palavra
Seu instante de febre
Sua gula e jejum
Sua biblioteca
Sua Laura de ouro
Seu terno de vidro
Sua incoerência
Seu ódio e agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta
Não existe porta
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou,
Quer ir para Minas,
Minas, não existe mais
José e agora?
Se você gritasse
Se você gemesse
Se você tocasse
A valsa vienense
Se você dormisse
Se você cansasse
Se você morresse
Mas, você não morre
Você é duro José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato
Sem teogonia
Sem parede nua
Para se encostar
Sem cavalo preto
Que fuja a galope
Você marcha José!
José para onde?
*
Carlos Drummond de Andrade
Nasceu em 31 de Outubro de 1902
Itabira, Minas Gerais, Brasil
Faleceu em 17 de Agosto de 1987
Rio de Janeiro, Brasil
Livro "José"
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